O custo de produção da construção civil subiu 48% nos últimos dois anos e alguns insumos contabilizam aumento superior a 100%, como o cobre e itens que compõem a parte elétrica, de acordo com a Acomasul (Associação dos Construtores de Mato Grosso do Sul). Para o SNIC (Sindicato Nacional da Indústria de Cimento), o que preocupa é o encarecimento do “coque de petróleo”, combustível sólido derivado do petróleo e principal insumo usado na fabricação de cimento. Os aumentos impactam diretamente nos preços de imóveis aos consumidores.
O coque teve elevação de 37% no primeiro trimestre do ano, impactando nos custos de produção da indústria cimenteira e, quando considerados os valores praticados entre 2020 e o primeiro trimestre de 2022, verifica-se que a elevação do custo do coque para a indústria chega a 485%.
Para Amarildo Miranda Melo, 2º vice-presidente do Sinduscon/MS (Sindicato Intermunicipal da Indústria da Construção do Estado de Mato Grosso do Sul), no caso do cimento, uma das explicações para a queda no consumo é a elevação da inflação.
“A inflação está alta e o poder de compra do consumidor diminuiu, causando um desequilíbrio em toda a cadeia. Os juros também aumentaram muito e tudo isso retrai o consumo, sem contar que existe um bom estoque de imóveis à disposição e a parcela da população endividada também é maior. São vários fatores que afetam o consumo do cimento”, avalia Melo.
Maiores aumentos
De acordo com o presidente da Acomasul, Diego Canzi Dalastra, todos os materiais usados na construção civil sofreram algum reajuste, desde a parte estrutural até o acabamento, do cimento à cerâmica. Recentemente, os maiores aumentos proporcionais foram itens metálicos, como fios de cobre e aço. Já os que tiveram maior valor agregado são os de acabamento, que têm maior impacto na obra. Os encarecimentos geram impactos “completamente significantes”, afirma o representante.
“Por exemplo, 10 anos atrás, um imóvel popular que era vendido a R$ 135 mil hoje é vendido a R$ 180 mil”, completa. “A grande preocupação é se o consumidor final vai ter capacidade financeira de adquirir esses imóveis em novos patamares, porque a renda não tem acompanhado essas elevações, não teve aumento tão expressivo. Se observarmos o salário mínimo de 2021 com o de 2022, o aumento foi de 10%”, analisa Dalastra.
A elevação do preço dos imóveis também impacta diretamente no valor das parcelas de financiamento desses bens. Segundo o representante, “é impossível aos construtores absorverem aumentos nesses patamares. Mas, diante da realidade, a margem de lucro do empresário do setor diminuiu porque ele tenta achatar o valor final para que o preço do imóvel caiba no bolso do comprador”, explica.
O representante ainda explica que os impactos nos preços serão sentidos ainda mais no próximo semestre:
“Nosso mercado tem um ciclo mais longo, um imóvel que está começando a ser construído hoje, vai ficar pronto daqui a 6 meses. Então, o consumidor vai sentir isso de maneira gradativa mais para frente, porque o estoque de imóveis mais velhos vai ‘saindo’ e vão entrando os imóveis novos já com os aumentos dos insumos”, detalha o presidente.
“Então, esse aumento efetivo a população vai sentir no segundo semestre de 2022. No segundo semestre de 2022, a gente vai ter um cenário completamente diferente do que temos hoje”, analisa.
Futuro
Para ele, somente no próximo semestre será possível constatar os efeitos desses aumentos.
“Só então vamos saber realmente se esses imóveis nestes novos valores vão continuar tendo saída como têm até hoje, ou não, se a venda vai estagnar. Por isso, nós estamos num momento temerário”, finaliza.
Já na análise do representante do Sinduscon/MS, o setor da construção civil pode estar passando por um momento que exige mais cautela, mas não deixará de crescer. “Mesmo com todos esses elementos preocupantes, a estimativa é de que vamos crescer entre 4% e 5% em 2022. Esse é um dos setores que mais contratou nos últimos anos e acreditamos que vamos continuar assim”, finaliza Melo.
Adaptado de Campo Grande News