O uso do Building Information Modelling (BIM) será obrigatório a partir de 2021 nos projetos e construções. Esse foi o teor do Decreto Presidencial assinado no final do ano passado para democratizar a plataforma no país. Seis meses após o anúncio da medida, os trabalhos de comitês espalhados pelo Brasil se concentrarão em implantar a Estratégia Nacional de Disseminação do BIM, proposta pelo Governo Federal. Santa Catarina, inclusive, foi o primeiro estado a definir que até 2019 as licitações de obras públicas fossem feitas com a metodologia BIM.
Complementarmente ao decreto, foi publicado o documento Construção Inteligente, pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), no qual são detalhados objetivos, ações, responsabilidades, metas e compromissos para a efetiva difusão desse novo paradigma da indústria da construção. O MDIC exerceu a presidência do Comitê Estratégico de Disseminação do BIM, criado em 2017 como primeiro passo para a propor a estratégia para BIM no país, com a participação de outros oito ministérios. O trabalho de formulação conta com a colaboração de diferentes instituições, entre elas, o Sinaenco.
Entre as metas estipuladas, está a de aumentar em 10 vezes a implantação do BIM, de forma que 50% do PIB da Construção Civil tenha adotado a metodologia até 2024. Atualmente, 9,2% das empresas do setor da construção (que correspondem a 5% do PIB do setor) utilizam o BIM em suas rotinas de trabalho, de acordo com pesquisa e estudos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), apresentada no documento.
Prazos Escalonados
De acordo com o VP de Arquitetura do Sinaenco/SP, Eduardo Nardelli, as empresas de Arquitetura e Engenharia consultiva deverão se preparar para utilizar a metodologia, considerando que o governo tem expectativa de, em 10 anos, o BIM estar disseminado nas obras públicas. A proposta da Estratégia BIM BR é que a exigência do BIM nas compras do Poder Público seja feita de forma escalonada, para conferir tempo de adaptação ao mercado e ao setor público.
Assim, os prazos para implementação foram divididos em três etapas:
– A partir de janeiro de 2021: a exigência de BIM se dará na elaboração de modelos para a Arquitetura e Engenharia nas disciplinas de estrutura, hidráulica, AVAC e elétrica na detecção de interferências, na extração de quantitativos e na geração de documentação gráfica a partir desses modelos.
– A partir de janeiro de 2024: os modelos deverão contemplar algumas etapas que envolvem a obra, como o planejamento da execução da obra, na orçamentação e na atualização dos modelos e de suas informações como construído (“as built”), além das exigências da primeira fase.
– A partir de janeiro de 2028: passará a abranger todo o ciclo de vida da obra ao considerar atividades do pós-obra. Será aplicado, no mínimo, nas construções novas, reformas, ampliações ou reabilitações, quando consideradas de média ou grande relevância, nos usos previstos na primeira e na segunda fases e, além disso, nos serviços de gerenciamento e de manutenção do empreendimento após sua conclusão.
Para o professor Sergio Scheer, especialista participante do Comitê Estratégico de Implementação do BIM, o uso dessa tecnologia vai beneficiar a Construção Civil:
“Os projetos serão melhor desenvolvidos e as construções terão mais qualidade. O setor sofrerá com menos desperdício e retrabalho, o que vai fazer com que o uso do recurso público envolvido seja melhor aproveitado”, garante.
Com essa ação, a expectativa é de uma redução de custo que pode chegar a 20%, de acordo com estudos contratados pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
Ações estratégicas para disseminação do BIM
A iniciativa elaborada durante um ano por um grupo formado por sete ministérios, conta com nove diretrizes:
– Difundir o BIM e seus benefícios;
– Coordenar a estruturação do setor público para a adoção do BIM;
– Criar condições favoráveis para o investimento, público e privado;
– Estimular a capacitação;
– Propor atos normativos que estabeleçam parâmetros para as compras e as contratações públicas;
– Desenvolver normas técnicas, guias e protocolos específicos;
– Desenvolver a Plataforma e a Biblioteca Nacional BIM;
– Estimular o desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias relacionadas ao BIM;
– Incentivar a concorrência no mercado por meio de padrões neutros de interoperabilidade;
– Mudanças, capacitação e frentes de trabalho.
O Brasil no cenário mundial
A tecnologia BIM chegou ao Brasil em meados dos anos 2000. Em relação a outros países, o Brasil segue na média quando o assunto é a adoção da ferramenta.
“Ainda estamos muito devagar, precisamos acelerar. O decreto é um aviso”, diz Scheer. Agora, com o anúncio do Governo Federal, espera-se que esse cenário seja diferente.
A inspiração da equipe que desenvolveu a estratégia de implementação do BIM vem do Reino Unido, referência no uso da tecnologia. Lá, foi estabelecida a data marco de 4 de abril de 2016 para que todos os fornecedores do Governo comprovem o uso do BIM em obras públicas. No Reino Unido já é exigido BIM Nível 2 (modelagem e interoperalidade) e deverá chegar ao BIM Nível 3 até 2025. A ideia principal do governo é reduzir o custo de projeto, além de diminuir a emissão de carbono.
Na América do Sul, o Chile foi o pioneiro na adoção da tecnologia BIM em projetos públicos. Em 2016, o governo chileno divulgou o Plano BIM, que estabelece que todas as obras públicas estejam inseridas na plataforma tecnológica a partir de 2020.
No Brasil, Santa Catarina foi o primeiro estado a definir que até 2019 as licitações de obras públicas sejam feitas com a metodologia BIM. Para ajudar construtoras e incorporadoras, o governo local lançou o Caderno de Projetos em BIM. O documento, escrito por um grupo técnico criado em 2014, determina a padronização e a formatação que orientam o desenvolvimento de projetos em BIM.
Biblioteca BIM
A iniciativa da ABDI vem para facilitar a troca de informações entre os profissionais da Construção Civil. Quando um projetista, por exemplo, vai modelar um edifício em BIM ele utiliza um banco de dados de materiais prontos.
Portas, paredes e canos têm especificidades. Com a biblioteca, todas as especificidades necessárias para um projeto constarão no documento. É uma espécie de cadastro de produtos e serviços, com preços, que podem ser utilizados nas obras.
“As bibliotecas digitais servirão para que União, governos estaduais e prefeituras possam reduzir despesas e trabalho, além de prestar contas de forma mais transparente à população. É uma tecnologia que deve ser adotada como prioridade”, afirma o presidente da ABDI, Guto Ferreira.
O que é BIM
A sigla BIM significa Building Information Modeling. O mesmo que Modelagem de Informação da Construção, em português. O BIM nada mais é que uma maneira eficiente de reunir todas as informações de uma construção de forma integrada e organizada. Esse conjunto de informações vai desde o modelo em si da edificação até seu orçamento. Isto é, acompanha a obra em todo o seu ciclo de vida.
A tecnologia BIM permite criar digitalmente modelos virtuais precisos de uma construção. Os modelos oferecem informações detalhadas de cada parte de um projeto, o que possibilita melhor análise e controle. Com o BIM, também é possível integrar softwares de diferentes fabricantes para que eles possam “conversar” entre si usando uma linguagem comum e aberta.
Além de integrar todos os dados em um único local, o seu uso também facilita o compartilhamento do projeto entre diferentes profissionais durante o processo de construção.
Esses profissionais podem inclusive trabalhar no mesmo projeto e ao mesmo tempo. Desde Arquitetos, Engenheiros, Projetistas, Fornecedores de Materiais, Gerentes Ambientais e clientes. Assim, todos podem interagir com o projeto de um edifício, gerando maior valor agregado.
A tecnologia BIM minimiza erros que seriam comuns no processo de projeto em 2D, por exemplo. Com o BIM, constrói-se maquetes eletrônicas, obtendo plantas, cortes e vistas. É possível simular como ficará cada detalhe estrutural da construção.
A tecnologia é tão eficaz que fornece informações aprofundadas de cada parte da evolução de um empreendimento. Além de permitir a atualização no modelo em tempo real.
Via INBEC